segunda-feira, 26 de abril de 2010

1 – Apontamentos sobre a vanguarda paulista


“O novo não me choca mais
Nada de novo sob o sol
O que existe é o mesmo ovo de sempre
Chocando o mesmo novo
Muito Prazer prezadíssimos ouvintes
Pra chegar até aqui tive que ficar na fila
Agüentar tranco na esquina e por cima lotação
Noite e aqui tô eu novo de novo
Com vinte e quatro costelas
O jogo baixo, guitarras, violão e percussão e vozes
Ligadas numas tomadas elétricas e pulmão
Já cantei num galinheiro
Cantei numa procissão
Cantei ponto de terreiro
Agora quero cantar na televisão”
Prezadíssimos ouvintes
((Itamar Assumpção e Domingos Pellegrini – Introdução: Paulo Leminski))

“Vanguarda Paulista” foi um nome dado pela imprensa, na década de 1980, a um grupo de compositores na cidade de São Paulo. Ainda que não caracterizasse um movimento propriamente dito1, os compositores que faziam parte deste grupo tinham em comum algumas características como o humor, a experimentação, o diálogo entre a música popular e a erudita, a formação acadêmica e a forma de produção independente (FENERICK, 2007).
Direta ou indiretamente, se envolveram na Vanguarda Paulista músicos e grupos2 como o Premeditando o Breque (Premê), Itamar As sumpção, Língua de Trapo, Arrigo Barnabé e o Grupo Rumo.
Ao que se refere a esses compositores, muitos trabalhos relatam inovações composicionais, propostas novas trazidas para a MPB, mas em sua maioria possuem um enfoque historiográfico-sociológico e não aprofundam o tema. Neste trabalho se pretende fazer uma reflexão sobre os processos composicionais dos autores, partindo de suas características estéticas. Uma vez que são vários estilos de composição, vamos partir de um aspecto geral da Vanguarda Paulista, que é a sua relação com a letra.3
Uma outra marca do movimento é a sua atuação diferenciada na indústria cultural. Antes deste período, do ponto de vista fonográfico, houve iniciativas de produção autônoma, mas a partir da Vanguarda Paulista começou a se falar de “Música Independente” como contraposição às grandes gravadoras4. Uma questão a ser abordada é, de que forma a liberdade propiciada pela produção independente repercutiu na criação destes compositores.
Por fim, uma vez que estamos falando da música em relação a letra, abordaremos a relação da música popular frente a literatura brasileira do período. Alguns autores (Sant´anna, 1976; Rodrigues 2003)5 identificam relações entre a música e a poesia nas canções brasileiras. Portanto é importante debater se a Vanguarda Paulista dialogou com algum movimento literário no Brasil, e como se deu esta interatividade.

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