segunda-feira, 26 de abril de 2010

ementada pelo fato de alguns dos integrantes participarem como atores1. O uso de personagens, óperas e uma amplidão de recursos foram utilizados pela Vanguarda Paulista.
A análise da performance se torna um desafio, uma vez que ela opera em campos que possuem várias nuances2. Estes recursos interpretativos-teatrais, geram uma ambigüidade no que se refere a recepção do ouvinte, uma vez que a performance é “uma instância que produz proximidade, interpelando o ouvinte, mas que, ao mesmo tempo, pertence a um aspecto teatral-performático, de distanciamento, como no pastiche e citação.” (Zumthor 2005 pp76)
Essa dualidade transparece no uso da voz na Vanguarda Paulista, que se apresenta algumas vezes próxima a fala e outras com hipérboles, sempre com a intenção de tornar claro ou exagerar o discurso:
Este canto referenciado na fala, que se tornou um alicerce estético para o cantor popular a partir da sedimentação do samba no início do século passado, experimentou, durante a Vanguarda Paulista, uma radicalização desse comportamento através da manipulação de elementos técnicos que buscavam elucidar os sentidos da canção. Essa abordagem vocal buscou, como temos constatado, um ponto de equilíbrio entre a naturalidade da fala e a elaboração no entoar das melodias, muitas delas não tonais, resultando em novas possibilidades de realização técnica e estética para o cantor popular. (MACHADO, 2007)

Esses são recursos que são utilizados na performance e interpretação da canção. Embora o senso comum trate a interpretação como equivalente à performance, esta última constitui um aspecto mais amplo.
Não podemos perder de vista que os elementos da canção quando dissecados (letra e música) parecem perder sua força. Isso é facilmente demonstrável quando lembramos de uma canção que gostamos: em geral, se lemos apenas o seu texto ou entoamos apenas a melodia, vemos que não chegamos à metade do seu impacto. Ou seja, não é apenas a sua “junção” que constrói o seu valor, ela sempre está atrelada a sua performance, porque a união da palavra e som só existe através dela. "Nesse momento encantado da performance, todos os elementos se aglutinam numa experiência única e talvez inefável, transcendendo a separação de seus componentes individuais."(FINEGAN 2006 pp5).
Para esta análise é importante ter em conta todos os seus elementos:
"...a performance musical representa o aspecto sensório, incontrolável e até perigoso da natureza humana (especialmente, é claro, quando manifestado na música popular ou não ocidental), enquanto a linguagem é tomada como sítio do alto intelecto- assim, é nesta última que os estudiosos têm preferido investir sua atenção.” (FINEGAN, 2006 pg 21)

Esses aspectos “perigosos da natureza humana” estiveram bastante presentes em toda a estética da Vanguarda Paulista. Estes elementos puderam ser evidenciados, em parte, porque não estavam atrelados às regras da grande indústria.

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